Abolição da Escravidão
Depois da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, há exatos 124 anos, os negros tiveram garantida sua liberdade. Mais de trezentos anos de escravidão terminaram e da noite para o dia milhares de escravos estavam oficial e irrefutavelmente livres. O Brasil finalmente retirava de sua sociedade essa mancha que envergonhava a todos, exceto uma parcela de proprietários de terras e fazendeiros que insistiam em sua permanência. Fomos o último país do mundo ocidental a acabar com a escravidão !
Nas senzalas e quilombos os negros festejaram a lei, a população também comemorou o fim da escravidão e os jornais escreveram sobre o fato histórico, louvando a sociedade brasileira de ter se livrado do atraso e de poder olhar para o mundo sem esse peso desmoralizante em suas costas. Pela sua importância, a data passou a ser feriado nacional.
O processo, apesar de longo e difícil, foi pacífico e não foi preciso uma guerra civil parecida com a americana como muitos imaginavam que poderia acontecer. A economia do país não foi destruída e aos poucos a produção voltou ao normal, tanto nas cidades quanto nas fazendas, com a introdução do trabalho livre.
Mais do que garantir o direito da liberdade para os escravos, o Brasil
deveria ter se preparado para fazer com que essas pessoas tivessem meios
de subsistência após a abolição. Os políticos brasileiros, que se
mostraram tão comprometidos com essa mudança, após a conquista de suas
ambições abandonaram por completo os ex-cativos à sua própria sorte. A igualdade jurídica não seria suficiente para eliminar as distâncias sociais e os preconceitos que séculos de cativeiro haviam criado. A abolição foi apenas um passo, o primeiro e mais importante, mas ainda assim o começo da emancipação dos negros.
Muitos fatores contribuíram para o processo de abolição no Brasil. O desenvolvimento do capitalismo e a Revolução Industrial haviam condenado a escravidão como forma de trabalho. Os países desenvolvidos rejeitavam-na tanto do ponto de vista econômico quanto do ponto de vista moral. Durante o século XIX, o trabalho escravo passou a ser visto como ignorância e atraso, e a emancipação como progresso e desenvolvimento da civilização. Com o passar do tempo, o grupo dos que eram contra qualquer mudança tornou-se cada vez menor no país. O discurso abolicionista uniu os grupos mais diversos e deu expressão aos interesses mais variados. Foi fonte de inspiração aos intelectuais e instrumento de ascensão política para os políticos.

Por fim, a abolição não foi catástrofe nem redenção. Ela foi, na maioria dos casos, a aquisição do direito de ser livre para escolher entre a miséria e a opressão. Tudo que foi gerado a partir do livramento e o posterior abandono dos negros na sociedade brasileira está presente até os dias de hoje. As cotas raciais que tanta discussão causaram e ainda causam são só um exemplo recente de como nossa sociedade ainda se vê em dívida com os negros.
fonte: "A abolição" de Emília Viotti da Costa
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